domingo, 7 de julho de 2013

Queremos médicos nas regiões pobres

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Em 5 de julho fiz aniversário. O assunto dominante eram as manifestações dos médicos entre tantas outras. Como venho há algum tempo refletindo sobre o corporativismo que tem se sobreposto aos interesses da população e por estar aniversariando fiz uma retrospectiva da minha vida em relação aos cuidados de saúde.

Nasci em 1965 na Vila Retiro – Caxitoré, a época distrito de Itapagé, hoje Tejuçuoca-CE. Fui a segunda de quatro partos vaginais, em casa assistido por parteira. Até os 7 anos permaneci no Retiro com minha família e o meu pai era quem nos medicava. Havia uma farmácia básica em casa (Quemicetina para infecções , merthiolate e água oxigenada para ferimentos, pomada oftálmica de terramicina para “dordolho”, e outros itens que não recordo).

Quando havia uma intercorrência mais séria (meu irmão aos 4 anos sofreu um coice de cavalo e partiu o lábio) nos deslocávamos para Fortaleza onde contávamos com os familiares médicos. No sertão, sem energia elétrica, sem água encanada, sem médicos, passei quase toda minha infância. Morria de medo de ser picada por cobra (na casa do meu avô paterno havia soro antiofídico, principalmente o anticrotálico contra picadas de cobra cascavel). Tive várias doenças consideradas comuns da infância, como catapora, tosse-braba (coqueluche), sarampo... e a primeira vacina que me recordo ter tomado foi contra meningite quando eu já tinha uns 10 anos.

Aos 7 anos fui estudar em Itapagé no Colégio das freiras cordimarianas. A partir dessa data, o meu pai deixou de ser o meu “doutor”. Aos 13 anos vim morar em Fortaleza e tive acesso normal aos serviços médicos embora só tenha sido internada aos 25 e 28 anos, nos meus dois partos (vaginais) e não demorei nem 12 horas na maternidade.

Nesses quase 50 anos, minha terra natal se urbanizou (passou a ter energia elétrica, água encanada – esse ano quase entra em colapso por conta da estiagem – escola com ensino fundamental e médio, Posto de Saúde, ruas calçamentadas, praça, quadra de esportes, etc) porém a Estratégia Saúde da Família que tem uma equipe com sede no Centro de Saúde da Família do Caxitoré passa a maior parte do tempo sem médico, tão grande é a rotatividade dos profissionais.
Vale ressaltar que é uma localidade a 115 km de Fortaleza (meu pai percorre esse trajeto três vezes por semana para realizar Terapia Renal Substitutiva – hemodiálise), portanto creio que a dificuldade em recrutar médicos seria amenizada com a importação dos médicos estrangeiros.

É evidente que as cidades desenvolvidas são bem mais atrativas e os profissionais são livres para optarem onde querem viver e trabalhar, contudo não acho correto impedir que outros médicos possam vir dar assistência a essa população carente e que merece ser cuidada.

A Atenção Básica precisa ser fortalecida para evitar o grande fluxo de pacientes nos hospitais secundários e terciários. O maior problema resulta na falta de médicos haja visto que os outros profissionais da Estratégia Saúde da Família geralmente preenchem as vagas tão logo elas surgem.

Precisamos cuidar das diarréias, das infecções respiratórias, dos hipertensos e diabéticos, das tuberculoses, hanseníases, da saúde da mulher, da saúde da criança, da saúde do homem, das doenças crônicas... precisamos prevenir doenças e promover saúde estimulando hábitos saudáveis.

Contamos com enfermeiras, dentistas, auxiliares e técnicos de enfermagem, agentes comunitários de saúde.
Faltam médicos.
Que venham os médicos cubanos, espanhóis e/ou portugueses!
Completem as equipes de Saúde da Família para que tenhamos uma atenção básica resolutiva, eficiente e eficaz!