Por David Morais, licenciado em Geografia – UFC, Personaldance, Diretor de Pesquisa, arte e cultura da ASPRODANSA-CE (associação dos profissionais de dança de salão do ceará).
Certa vez vi em um show de humor, o humorista contando uma piada que era assim: “Cheguei à casa de meu sobrinho de nove anos e o encontrei fumando. Vendo aquele absurdo interroguei-o desde quando ele fumava, o mesmo respondeu que desde sua primeira relação sexual. Fiquei surpreso, mas a curiosidade era tanta que continuei a inquiri-lo na ânsia de entender como aquilo estava acontecendo com um garoto de apenas nove anos. Não exitei e perguntei novamente, quando foi sua primeira relação sexual? Respondeu ele que não lembrava, porque estava num estado de embriaguez”.
Tomemos como ponto de partida à piada acima mencionada. Diante do que vem acontecendo em nossa cultura, mas especificamente no meio musical, esta história não difere em nada no que está acontecendo realmente. Não queremos aqui afirmar se é verdade ou mentira que isto aconteça com a criança. A questão é refletir o livre acesso que qualquer pessoa tem a esta musica difamadora, inegavelmente desrespeitosa e assassina de valores familiares, religiosos e humanos. A criança representa todo um grupo de pessoas que se transfigurou de seres humanos racionais para seres irracionais, e que notadamente se confunde com os animais desprovidos de senso crítico.
Podemos elencar aqui uma série de músicas que caracterizam fielmente o que estamos falando. Mas é mais interessante citarmos os palavreados expostos por algumas destas músicas que fizeram sucesso na mídia, a mídia como meio prostituído, onde o proprietário da banda paga para tocar a sua musica. Toca mais quem paga mais.
Quem nunca se pegou escutando nos ônibus, nas lojas de CD’s do centro da cidade, nos celulares de amigos, de pessoas próximas, nos bares ou na casa do vizinho, músicas que fazem menção a mulher como cachorra, bandida, safada, pilantra, mentirosa, piriguete, e tantos outros títulos que não nos convém citar aqui, mas que estão fazendo este sucesso comprado.
Com certeza, muita gente sente saudade de uma época em que jovens mpbistas como: Geraldo Vandré e Chico Buarque lutavam contra uma ditadura desumana, de um governo centralizador e autoritário e que faziam composições musicais de protesto através de uma linguagem metafórica. Devemos também trazer a nossa lembrança alguns músicos que, mesmo não tendo o título de alfabetizados, se tornaram ícones da música brasileira como: João do Vale, Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Dominguinhos e tantos outros, mas que conquistaram o seu espaço e sucesso com garra e perseverança, sem precisar estar comprando este sucesso falseado. A atuação de tais ícones dentro da música fora tão relevante que não só conseguiram prestígio no âmbito nacional, bem como também na escala mundial.
No Documentário O homem que engarrafava nuvens de autoria de Denise Drumont (filha de Humberto Teixeira), direção de Lírio Ferreira, com participação de Chico Buarque no elenco, e lançado em 2009, a autora cita várias experiências vividas por seu pai Humberto Teixeira e o sanfoneiro Luiz Gonzaga no cenário mundial através da música. São mostradas versões da música Asa Branca em inglês e japonês.
Diante deste exemplo, seremos categóricos em afirmar que muitos jovens do século XXI, um século de avanços tecnológicos, mas longe do avanço intelectual para alguns, não sabem disso e o pior, não sabem nem de quem é a música Asa Branca. Além de tudo isso, é relevante citar mais um fato deste documentário e que despertou a atenção dos que foram assisti-lo. Um jovem rapaz ao ser perguntado sobre o que a aconteceu com o baião (ritmo nordestino que sob a tutela de Luiz Gonzaga ganhou os centros urbanos no fim da década de 30 e início de 40), depois que Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira se apropriaram deste ritmo, ele responde que Humberto era a pólvora e Gonzaga o canhão da musica brasileira.
Voltando para a história humorística supracitada, agora podemos fazer uma outra reflexão não menos importante que a primeira, a partir do contexto dos gestos humanos. Será que criança não pegou uma caneta ou lápis e esboçou familiaridade com o cigarro? Será que ele não fez o gesto como se fizesse sexo com alguém? Ou será que ele não demonstrou embriaguez fazendo um andar cambaleante? Ou melhor, será que ele não mostrou suas nádegas e começou a rebolar do mesmo jeito das dançarinas deste pseudoforró(expressão criada pelo autor deste texto)? São indagações relevantes, pois a musica está intrinsecamente ligada aos gestos e símbolos humanos, devido à historicidade da correlação entre música, dança e teatro. Entenderemos rapidamente isso na figura abaixo.
Ex: Espiritual
Mental Musica Dança Teatro Físico
Equilíbrio
Não é interessante agora nos apreendermos ao significado desta figura, deixemos isto para um outro momento, mas percebamos a partir dela que estas três colunas internas principais: musica, dança e teatro são o embasamento para as ramificações externas, o equilíbrio, a mente, o corpo e o espírito.
A partir daí, a nossa reflexão deve ser fundamentada da seguinte maneira, todo ouvinte consegue ter esta sensibilidade para interpretar uma musica de qualidade a ponto de lhe fazer conquistar o equilíbrio? Agora direcionemo-nos aos apaixonados da boa musica, sobretudo o forró, em especial aos dançarinos (as) de forró. Quantas vezes nós conseguimos chegar a este equilíbrio? Quantas vezes nossos corpos leram e interpretaram com dignidade letras maravilhosas de compositores que só queriam descrever poeticamente como eles vêem o mundo que os rodeiam? Se nós conseguirmos responder esta indagação proposta, então assumamos que somos também detentores deste olhar poético, diferente do cantor ou compositor só porque não escrevemos a musica e sim a descrevemos através da linguagem corporal, mas somos iguais a eles no jeito sensitível de olhar e ouvir uma musica de qualidade.
É essencialmente importante afirmar que, uma coisa é música e outra coisa é o lixo eletrônico que produziram e continuam a produzir, assim como uma coisa é forró como aquele de Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Waldonys, Flávio José, e porque não dizer Mastruz com Leite no inicio de sua carreira que contemplam a figura feminina com palavras carinhosas, outra coisa é uma banda que denigre a mulher e ainda coloca várias delas em cima do palco com as nádegas de fora e realizando gestos obscenos.
Nossos ouvidos não são privadas! Já que não estão tendo a mínima consideração e respeito pela nossa cultura, nem pelas mulheres e tampouco pela nossa boa musica, então sejamos mais críticos, não vamos dar audiência a esse “sucesso” prostituído e covarde que só pensa no lucro, no consumismo exacerbado e que maltrata os valores éticos e morais de nossa sociedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário