domingo, 9 de fevereiro de 2014

Tagore

Rabindranath Tagore (7 de maio de 1861 - 7 de agosto de 1941), alcunha Gurudev, foi um polímata bengali. Como poeta, romancista, músico e dramaturgo, reformulou a literatura e a música bengali no final do século XIX e início do século XX. Como autor de Gitânjali, que em português se chamou "Oferenda Lírica"e seus "versos profundamente sensíveis, frescos e belos", sendo o primeiro não-europeu a conquistar, em 1913, o Nobel de Literatura, Tagore foi talvez a figura literária mais importante da literatura bengali. Foi um destacado representante da cultura hindu, cuja influência e popularidade internacional talvez só poderia ser comparada com a de Gandhi, a quem Tagore chamau 'Mahatma' devido a sua profunda admiração por ele. (Wikipédia)
"Se choras porque não consegues ver o Sol, as tuas lágrimas impedir-te-ão de ver as estrelas."
"Se choras porque não consegues ver o Sol, as tuas lágrimas impedir-te-ão de ver as estrelas."


"Senhor!Dá-me a esperança, leva de mim a tristeza e não a entrega a ninguém.
Senhor! Planta em meu coração a sementeira do amor e arranca de minha alma as rugas do ódio.
Ajuda-me a transformar meus rivais em companheiros, meus companheiros em entes queridos.
Dá-me a razão para vencer minhas ilusões.
Deus! Conceda-me a força para dominar meus desejos.
Fortifica meu olhar para que veja os defeitos de minha alma e venda meus olhos para que eu não cometa os defeitos alheios.
Dá-me o sabor de saber perdoar e afasta de mim os desejos de vingança.
Ajuda-me a fazer feliz o maior número de possível de seres humanos, para ampliar seus dias risonhos e diminuir suas noites tristonhas.
Não me deixe ser um cordeiro perante os fortes e nem um leão diante dos fracos.
Imprime em meu coração a tolerância e o perdão e afasta de minha alma o orgulho e a presunção.
Deus! Encha meu coração com a divina fé...Faz-me uma mulher realmente justa"
Tagore

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Quem tem medo das doações

Por Paulo Moreira Leite

Tentativa de criminalizar arrecadação dos réus da AP 470 procura esconder críticas cada vez maiores ao julgamento

Só quem ainda não entendeu o que está acontecendo com a ação penal 470 implica com as doações recebidas por Genoino e Delúbio Soares.

Basta fazer uma conta de aritmética simples para entender que são números compatíveis, por exemplo, com o número de filiados ao PT. Eles somam 1,7 milhão de brasileiros. Em teoria, bastaria que cada filiado doasse R$ 1 para que o total fosse atingido. Claro que não foi isso o que ocorreu mas essa estimativa dá uma ideia do processo.

Sem que se tenha provado nenhuma irregularidade nas arrecadações, a divulgação da (suspeita? denuncia? calunia? mentira? ) sobre lavagem de dinheiro e os pedidos de investigação são apenas tentativas de esconder um fato político de primeira ordem: a visão de muitos brasileiros sobre o "maior julgamento da história" está mudando – e rapidamente.

Em vez atender ao grotesco pedido de Joaquim Barbosa, estes cidadãos mostram que os condenados não serão punidos com o esquecimento. Pelo contrário. Tem gente que é capaz de colocar a mão no bolso para dizer que serão lembrados.

O esforço para criminalizar as doações é apenas uma tentativa de criminalizar um movimento político legítimo e, do ponto de vista de muitas pessoas, necessário.

Não há nada de novo aqui, quando recordamos qual era o sentido a ação penal 470: criminalizar lideranças de um governo que, com todas as falhas e defeitos, mostrou-se capaz de realizar diversas mudanças urgentes, de interesse da maioria da população.

O sinal novo, que não se quer enxergar, encontra-se nas doações.

Abatidos, derrotados e desmoralizados depois do julgamento, os eleitores de Lula, os filiados ao PT, sindicalistas e milhares de cidadãos de convicções democráticas mostram que não perderam a capacidade de incomodar-se diante de uma injustiça cada vez mais visível.

Perderam o medo de mostrar seu inconformismo.

É por isso que as doações incomodam, quando deveriam ser celebradas.

Elas expressam uma força que nossos vira-latas da sociologia barata tanto elogiam nos países desenvolvidos – a presença, em nossa sociedade, de homens e mulheres que não se dobram nem se submetem.

Já vimos, inúmeras vezes, como essa capacidade de resistência tem importância em nossa história. O processo está se repetindo, e a arrecadação é apenas um sinal.

As doações mostram, essencialmente, que cresce o número de pessoas convencidas de que tivemos um julgamento injusto, partidarizado e contraditório. Não é para menos.

Está cada vez mais evidente que não era possível impedir o desmembramento da ação penal 470 depois de garantir esse direito aos réus do mensalão PSDB-MG.

A decisão de manter sob sigilo as provas reunidas nos 78 volumes do inquérito 2474, que pode ser acompanhada num vídeo disponível na internet, mostra-se tão ilegítima como suspeita. Pergunta-se: se as provas da acusação contra eram tão boas e tão consistentes, por que deveriam ficar escondidas?

Além de serem condenados por uma doutrina que dispensa provas individuais contra cada um dos réus, como manda o Direito Penal, os réus agora enfrentam penas agravadas artificialmente, apenas para garantir que eles ficassem submetidos a longas temporadas sob regime fechado.

O voo de 15 de novembro, a guerra de laudos médicos, a tensão fabricada contra prisioneiros do AP 470 e os demais apenados, numa tentativa tosca de denunciar "privilégios" que nunca se mostram, apenas demonstra um esforço para desmoralizar os réus, e criar um estigma político para impedir e uma discussão serena e necessária sobre o julgamento.

O ponto é este. As pessoas que criminalizam as doações temem, acima de tudo, serem criminalizadas pela própria consciência. Sabem que poderão ser cobrados pelo silêncio, pela omissão, pela hipocrisia.

Mais uma vez, e há uma ironia amarga, aqui, é a noção de que todos são inocentes até que se prove o contrário que está em jogo aqui.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

CHUVA

por Moreira Campos

                                                                                                                                                                                                                                                                    













São as primeiras águas de janeiro. 
Banham-se as folhas, 
sobe do chão o cheiro de terra molhada, 
que me penetra 
e repentinamente me transporta. 
Há pedaços de infância nesta chuva. 
Tento reconstituir o retábulo de azulejo, 
traço com traço.
Um azulejo antigo,
de ingenuidade colonial.

O banho sob o jacaré na calçada?
O mergulho no Poço das Pedras?
A fria fuligem vinda da telha-vã
e que caiu na minha rede?
A oração que minha mãe me ensinou
e que o homem esqueceu?

A voz rolada do trovão que amedronta,
porque vinda das origens?
O relâmpago que iluminou o guarda-roupa?
(Minha mãe cobria todos os espelhos).
A manhã que amanheceu lavada como a minha infância,
com asas de insetos na calcada?

Tento viajar no tempo,
reconstituir os desenhos do retábulo.
Inútil.
Só o imponderável.
E esta chuva,
que chora em gotas na vidraça,
como eu me choro.