quinta-feira, 31 de março de 2011

Respeite lá que eu respeito cá.

                                                     
Na primeira semana de fevereiro passado (2011), Assaré comemorou o aniversário de seu filho mais ilustre, o nosso internacional Patativa, estudado mundo afora por suas verdadeiras aulas de conciência política em forma de versos e canções que sempre estarão presentes em nossas vidas e das futuras gerações de poetas e amantes da cultura nordestina.
                Para comemorar o nascimento do maior poeta popular que esse país já conheceu, a prefeitura montou uma grande e variada programação festiva que quase fez jus ao homenageado, isso mesmo, por muito pouco a prefeitura de Assaré desperdiçou a oportunidade de fazer uma festa a altura de seu filho querido, ao montar uma grade musical predominantemente formada por bandas do autointitulado” forró eletrônico” Fico pensando o que o dono dos versos de “Vaca Estrela e Boi Fubá” e “Triste Partida”, sentiria ao ver que o poder público de seu município oferece a seus conterrâneos pérolas como, “vou ligar meu paredão”,” aumenta o som aí” e “cachaça eu te amo”, sob o argumento de que “é disso que o povo gosta”. Acho sinceramente que o nosso poeta poderia ter sido melhor festejado.
             Aliás, já está mais do que na hora de nossos gestores pararem de usar dinheiro público para bestializar o nosso povo. A cultura é sem sombra de dúvidas a mais importante pasta de uma gestão pública que se preocupa de verdade com o bem estar de seus munícipes. É a cultura, junto com a educação que formata os cidadãos ou os trogloditas que teremos para o nosso convívio, cabe ao gestor público a tarefa de escolher bem o que oferece ao contribuinte sob qualquer forma de expressão cultural de massa. O povo gosta sim de música boa e merece ter acesso a ela, afinal é ele quem paga a festa.
                Há alguns anos, a cidade de Fortaleza realiza um réveillon que mobiliza mais de um milhão de pessoas, com uma programação musical marcada pela qualidade, sem precisar apelar para a baixaria para tirar as pessoas de casa, e a festa a cada ano fica mais bonita e participativa. Basta isso para jogar por terra o argumento de que o povo gosta é musica apelativa e sem qualidade, mas não é só no réveillon que o fortalezense tem acesso a uma programação de qualidade, isso é uma prática permanente da prefeitura.
                Não acho sinceramente que a maioria dos gestores não tenha um compromisso sério com os seus eleitores, o que lhes falta é se cercarem de assessores que se posicionem de uma forma mais corajosa na hora de se contrapor ao que a mídia nos joga na cara todo dia. Não podemos confundir secretaria de cultura com secretaria de festas, os festejos de um município são uma oportunidade de confraternização da população de onde ela pode sair melhor ou pior. Nas festas ela pode ter lições de convivência harmônica e alimentar sua alma com belos versos e canções ou simplesmente se encher mais ainda de individualismo, consumismo e violência. Tudo depende de uma decisão política de quem está no comando.
                Ano que vem estaremos comemorando o centenário do nosso eterno Gonzagão, símbolo maior do talento e da coragem de nosso povo de enfrentar e vencer adversidades cabe ao Ceará dar um salto de qualidade em suas festas públicas para que o nosso estado deixe de ser o berço do pornô axé e volte a merecer lugar de destaque na cultura popular 
de nosso país, não é tarefa difícil, basta querer.
                Estaremos atentos!


José Walter Campos de Medeiros Filho
Presidente Da Associação Cearense de Forró
                            

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