No século XVI (chegada de portugueses em terras brasileiras), quando ocorre o encontro dos diferentes povos, de diferentes nações, algo de fato acontece à formação cultural brasileira. Ocorrerá cá nestas terras, o nascimento de uma identidade cultural sincrética que perpassa até os dias atuais.
“Surgimos da confluência, do entrechoque e do caldeamento do invasor português com índios silvícolas e campineiros e com negros, uns e outros aliciados como escravos” (RIBEIRO: 1995, p. 19).
A vocação musical dos índios que aqui estavam, era expressa não só no seu jeito de tocar, mas também na sua forma de dançar. Os portugueses tratam de “reeducar” estes primeiros povos pela catequese dos Jesuítas dentro dos aldeamentos onde os índios aprendiam a tocar flauta, viola e pandeiro.
Posteriormente, chegam os negros africanos com a sua ginga, o seu requebrado sensual e suas batucadas. A cultura nossa de cada dia inicia-se da junção dessas três culturas distintas.
No século XIX, após a chegada da corte de D. João VI, a cultura era associada ao conhecimento que algumas pessoas ditas “cultas” acumulavam ao longo da vida e também associada às artes de origem européia (pintura, literatura, música, teatro).
Devido a esta concepção de cultura, o Estado, durante o Império e a República Velha, criou instituições que excluíam mais ainda as expressões culturais da população indígena, negra e mestiça. Estas expressões eram classificadas pelos grupos dominantes como folclore, o que de fato soava negativamente. Durante este período da história brasileira, o Estado atuava, em temos culturais, como mecenas de artistas e intelectuais talentosos que surgiam. Obviamente eram beneficiados apenas aqueles cuja arte era de influência européia.
Estudiosos há tempos vêm se preocupando em decifrar esta manifestação cultural popular denominada de forró:
A primeira, quanto á palavra "forrobodó" (termo africano) foi conceituada pelo folclorista potiguar Luis da Câmara Cascudo, que significa: arrasta-pé, farra, confusão, desordem. Outros ainda tentaram decifrar este termo, mas sem concretude. Uma segunda teoria sobre a origem da palavra está associada à expressão da língua inglesa for all que quer dizer para todos. For All eram nomes colocados em placas nas portas dos bailes promovidos pelos ingleses no início do século XX. Estes eram engenheiros britânicos que vieram trabalhar na construção da ferrovia Great Westem em Pernambuco. Estes bailes eram abertos ao público. Como os nordestinos também participavam destes e não sabiam pronunciar a palavra original, então chamavam “forró”. A terceira versão substitui os ingleses pelos estadunidenses e Pernambuco pela Natal do período da Segunda Guerra Mundial, quando uma base militar dos Estados Unidos foi instalada nesta cidade. Boa indicação para que se tenha um maior conhecimento desta base americana é o filme: For All - o trampolim da vitória (1997), sob a direção de Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz.
Na quarta versão apregoa-se que o termo forró já havia sido mencionado antes mesmo da segunda guerra mundial (1939-1945). Em 1937, cinco anos antes da instalação da referida base em Natal e Pernambuco, a palavra "forró" já se encontrava registrada na história musical da gravação fonográfica de “Forró na roça”, canção composta por Manuel Queirós e Xerém no referido ano. Xerém representava as origens caipiras através do traje, do chapéu de palha ou de couro. Cantava, dançava, fazia composições, desenhava, construía instrumentos musicais e gravou mais 40 discos 78 RPM. Nascido na cidade de Baturité – CE em 1911, Xerém fez shows em todo Brasil e faleceu no ano de 1982 aos 71 anos de idade na cidade do Rio de Janeiro.
Uma quinta e ultima versão talvez seja a designação mais coerente para o forró:
“O forró diferentemente dos diversos gêneros musicais brasileiros, tem data, hora e local do seu nascimento, assim como o nome dos pais, certo e sabido. O parto começou às quatro e meia de uma tarde de agosto de 1945, na Avenida Calógeras, no escritório do advogado Humberto Teixeira, no centro do Rio de janeiro, antiga Capital Federal. O trabalho de parto só findou lá para a meia noite, quando vieram ao mundo Asa Branca e Baião.” (ÂNGELO, 2006, p. 92).
É significativa esta explanação, para abrirmos um diálogo entre as várias vertentes e nos prender ao que de fato estar enraizado como forró até os dias atuais na figura do artista Luiz Gonzaga e do significado explicitado da música regionalizada (forró) àquela veiculada pelo folclorista Câmara Cascudo, forró como bagunça e desordem.
O forró coladinho, rala-bucho, rala-coxa; é xote, baião, xaxado, côco, marchas juninas... riqueza de gêneros da música nordestina.
Por FRANCISCO DAVID DE MORAIS FURTADO
Professor de geografia, personal dance, membro da ASPRODANÇA e da Associação Cearense do Forró.
Nenhum comentário:
Postar um comentário