Fortaleza, abrigo de conterrâneos tangidos pelas secas inclementes, aqui plantando sementes regadas com seu suor, herança passada a nós, cabeças chatas vindos de todos os pontos dessa terra hospitaleira, humana, generosa.
Fortaleza, cidade hospitaleira, humana não só para nós, também para emigrantes vindos dos mais distantes países e que, conosco, aqui construíram seus lares e geraram filhos, novos conterrâneos de pele, olhos, línguas diferentes, mas não menos cearenses dos que nós aqui nascidos.
E formamos uma só gente, os “cabeças chatas”, outrora levados nas piadas, indiretas, mas sem os quais muitos Estados do sul e sudeste não teriam a pujança de agora... Os que nos escolheram como pátria e edificaram aqui a sua nação, se deram bem e formam fortes colônias de portas abertas para a grande família cearense...
Em 1923 aqui chegou um jovem japonês, Juzaku Fujita, com o sonho e o propósito de trabalhar e construir uma família, casando-se com dona Nenen, com quem teve 14 filhos, dos quais sobreviveram seis. Com a mulher trabalhou naquilo que é marca de seu povo: a terra e da terra colheu flores e com flores embelezou e perfumou Fortaleza. Naquela casa todos cuidavam do jardim e vendiam o produto de sua labuta.
A estupidez da guerra nos fez também estúpidos: e muitos de nós, cegos pela ignorância e levados por agitadores que nos instigavam a destruir o que os novos patrícios plantavam com as mãos, o coração e a alma. A família de Juzaku Fujita sofreu calada e, mais uma vez, plantou o seu jardim... Jardim que hoje está ali, no Meireles, ornando a nossa cidade de beleza, flores, perfumes.
Vá ao Jardim Japonês e abra os olhos da alma: Juzaku e Nenen estão cuidando das flores...
Adísia Sá
adisiasa@gmail.com Jornalista
Fonte: Jornal O POVO
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