Por Walmyr Castro
“É certo que o ritmo nasceu no Nordeste e foi apresentado ao sul do país por Luiz Gonzaga nos anos 40. Mas quando, onde e como ele apareceu lá no sertão ainda é, de certo modo, um mistério que vem dividindo muitos estudiosos e músicos.”
A versão dada pelo historiador e pesquisador da cultura popular Luís da Câmara Cascudo diz que a origem da palavra é o termo “forrobodó”. E esta tem algumas origens possíveis: farrobodó, farrundum e o termo oriundo do galego forbodo pelo francês fauxbourdon (falso bordão) entre outras. Os bailes eram chamados de “forrobodó” e com o tempo, por ser mais fácil pronunciar, simplesmente “forró”.
Outra versão viria do termo for all (para todos), afixados na entrada do baile de inauguração (ao som da zabumba e sanfona) da primeira estrada de ferro construída em Pernambuco pela companhia inglesa Great Western. Não há nenhuma sustentação para tal etimologia do termo, pois em 1937, cinco anos antes da instalação dos ingleses, a palavra “forró” já se encontrava registrada na história musical através da gravação fonográfica de “Forró na roça”.
A canção foi composta por Xerêm e Manoel Queiroz, gravada em 02 de julho de 1937 por Dão Xerém, Tapuya e sua Tribu na “Victor 34.222-b” (posteriormente RCA-Victor e BMG) e lançada no suplemento de outubro do mesmo ano. Este foi o primeiro disco a constar uma música instrumental com sonoplastia com ruídos diversos, algumas falas ao fundo e no título a palavra “forró”. Irmãos cearenses de Baturité, Xerém ou Dão Xerém chamava-se Pedro de Alcântara e Tapuia era Nadir Alcântara, “Sua Tribo” se apresentava com violão, cavaquinho, gaita de boca, cuíca, pandeiro e côro.
A EVOLUÇÃO DO SIGNIFICADO
Não é de agora a preocupação com a manipulação da mídia em relação ao forró.
No ano de 1974, Jackson do Pandeiro denunciava, em LP editado pela “Abril Cultural”, a situação de seu trabalho ao comentar: Mesmo com a perseguição da música estrangeira eu aguentei a barra durante doze (12) anos, eu e Luiz Gonzaga. Nunca parei de fazer gravações mesmo com a perseguição do iê iê iê. Comenta-se que o surgimento do iê iê iê causou a necessidade de apressar o “Baião” gerando o “Forró”.
Quando Jackson do Pandeiro lançou o disco “Isso é que é forró” (a palavra forró refere-se à festa), o repórter José Ramos Tinhorão comentou: Jackson do Pandeiro está oferecendo uma demonstração de força e atualidade que deve dar o que pensar aos que se entregam tão depressa, sem luta, às imposições da máquina responsável pelas modas musicais destinadas a um público manipulado. Hoje nós passamos pelas mesmas dificuldades. O que tem se apresentado atualmente na mídia está muito distante do verdadeiro forró. Alguns temas distorcem o significado do forró e nos levam a uma reflexão:Comportamentos destituídos de valores éticos e morais que causam um enorme prejuízo à cultura musical nordestina e à sociedade: Apologia ao alcoolismo, Misoginia moral, machismo e dominação sexual.
No “Domingão do Faustão” da Rede Globo no concurso “Dança dos Famosos” cujo ritmo seria o forró, apresentaram-se “xotes metalizados” com letras de MPB sem identificação alguma com o forró, vanerão, xote reggae, etc. E o forró? Onde está o ritmo forró? O ritmo é a pulsação da música. Atualmente o forró está passando por grandes transformações em relação a sua originalidade com o surgimento de propostas musicais divergentes, influências rítmicas não nordestinas e novos grupos amplamente explorados na mídia que distorcem o real significado do forró.
O ritmo é a pulsação da música. O que estão chamando de “forró pé de serra” ou “forró universitário” é “xote”. O que chamam de “forró eletrônico” é vanerão. Posso até dizer que o forró do gaúcho é o vanerão, mas nunca posso afirmar que vanerão é forró. É preciso discernir ritmo de gênero musical para que o povo entenda o valor cultural ao invés de aceitar a manipulação dos interessados apenas em dinheiro.
A preocupação é que essa música travestida de forró caracterizada pela metaleira sem ênfase à sanfona e pela descaracterização do ritmo e da dança passe a servir de referencial para as nossas manifestações culturais. O forró é o alicerce de várias delas no nordeste do Brasil e em particular no Cariri, tais como: grupos de pau de fita, reisado de congos, côco, manero pau, bandas cabaçais, xaxado, lampinha, penitentes, excelência e outros.
As primeiras festas de Luiz Gonzaga, maior divulgador do forró em todos os tempos, foram na feira do Crato junto com Januário na década de 20. O Crato é conhecida como Capital da Cultura, Princesa do Cariri e Oasis do sertão. Sem esquecer que é a terra onde nasceu Padre Cícero. A palavra é de Xerêm, o ritmo é de Gonzaga e o bem cultural (Patrimônio intelectual e imaterial) é do povo brasileiro.
walmyrcastro@hotmail.com Fones: (85) 8615.6000 – (85) 9911.3733
Excelente matéria falando sobre um dos maiores patrimônios culturais Nordestinos, o Forró.São pouquíssimos os nativos dessa terra árida que não conhece o som da sanfona, do zabumba e do triângulo.
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